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segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

O tempo da cidade


No meu último texto compartilhei com os leitores um projeto de futuro para Santa Cruz do Rio Pardo no texto “Feliz 2050”. Um amigo me reclamou dizendo que teria pouca probabilidade de estar vivo para presenciar aquelas modificações na cidade, pois está hoje com mais de 50 anos. Outro reclamou dizendo que esperar 40 anos é muito tempo e que queria ver aquela realidade concluída em um tempo menor.
Pois bem. Um texto do jornal O Estado de São Paulo de 10/01/2009, “Mais que perfeito”, dizia que em questões tecnológicas, nem os filmes futuristas de Hollywood conseguem imaginar como serão as coisas em um tempo bem à sua frente.


A análise foi feita em relação ao filme “De volta para o Futuro II” de Robert Zemeckis, quando o personagem Marty McFly, vivido por Michael J. Fox, de 17 anos vai ao futuro, em 2015 (30 anos depois. No futuro desse filme os carros e skates voam e as pessoas usam roupas especiais automatizadas. Não se imaginou na existência da internet e do celular, nem do Skype e do MSN. O ponto de análise do futuro deste filme é a própria realidade que existia em 1985. Ou seja, a evolução da realidade cotidiana é sempre mais difícil de percebermos quando pensamos no futuro. O futuro é sempre pintado envolvendo os veículos que voam, os robôs e humanóides, a conquista do espaço e os seres extraterrestres, mas muito pouco na vida social cotidiana.
Mas estamos falando do futuro nos filmes. Muito fácil de se fazer e pensar. Muito mais complicado é quando se deseja construir o futuro dentro de nossa realidade, mais especificamente, dentro do tema que estamos discutindo, do futuro de nosso município. Pensar como será a cidade num longo período é muito importante. Pois assim estamos pensando no futuro das próximas gerações.
Mas uma coisa sempre é certa. A cidade tem uma vida maior do que os seus moradores. Alguém que mora em Santa Cruz hoje estava aqui quando passamos a ser um município em 1876? Ou quando nos tornamos cidade em 1906? Alguém ouviu o primeiro apito do trem que entrou na estação ferroviária? Alguém pisou no primeiro pedaço de asfalto que a cidade teve? Com certeza não. Essas pessoas já faleceram. Outras vieram, mas a cidade continua aí. E por que isso acontece?
Porque o tempo da cidade é diferente do tempo de nossas vidas humanas. Santa Cruz estará aqui em 2050 e em 2100. Mas muito poucos de nós estaremos comemorando a entrada do próximo século em 2111.
Isso parece óbvio. Mas muitos não entendem, os políticos, empresários e a própria população se esquece disso com muita facilidade. Ao invés de criar um projeto de planejamento, ficam pensando no amanhã imediato, com ações de curto prazo. Pode ser mais cômodo, mas é um tiro no pé quanto ao desenvolvimento. Sem definir onde se quer chegar, não se pode saber o que fazer.
Esse futuro só pode ser vislumbrado quando se tem, em primeiro lugar, o desejo de se chegar a um certo patamar de condições para o município. Deve-se assim definir um objetivo para o futuro. Para se chegar a esse objetivo é prioritário que sejam levantados os desafios para alcançá-los. Dentro de cada desafio devem ser pensadas as várias ações para vencê-los. Essas ações devem ser definidas no tempo, com início e fim, dentro de prioridades previamente definidas. Deve-se definir também, entre os agentes de desenvolvimento, as responsabilidades de cada um em relação às ações, nunca se deve deixar a responsabilidade para um só, ou para um pequeno grupo. Com todo este quadro desenhado, entra a necessidade da definição dos custos das ações. É imprescindível também a definição das formas de controle que serão usadas e os responsáveis por esse controle. Somente desta forma temos a sentimento de que o município está nos trilhos. E não aquele sentimento de “asa delta”, sempre a procura de uma “térmica” para se levantar, mas logo depois caindo quanto essa “térmica” acaba. Quando se está nessa situação, sempre temos de observar e acompanhar os urubus, que são aqueles animais que só ficam atrás de carniça. E não podemos dizer que carniça é uma coisa boa.
Além dessa falta de visão, o que classifico como “miopia crônica” quanto ao futuro, junta-se uma “catarata ocular” que tampa os olhos dos agentes, o que impede a eles de verem as necessidades uns dos outros. Cada um acha que está fazendo o necessário. Sendo que nunca os agentes envolvidos sentaram-se para definir as necessidades de cada um, e como cada um vai se comportar para o que precisa ser realizado. É necessária uma simbiose dos agentes de desenvolvimento para a definição das ações.
Dentro desse quadro clínico junta-se a “surdez dissimulada”. Não ouvir o outro. E quando se ouve, logo depois a dissimulação entra em foco, e não se dá ouvidos ao que foi falado, ou pedido, ou sugerido, ou criticado. Os agentes envolvidos acham que somente o que eles pensam é que está certo. Isso cria um ambiente de desconfiança e de falta de união.
Finalmente temos a “fala publicitária”. Esse tipo de fala só joga louros ao que o agente faz, sem nenhum caráter crítico, pois a preocupação é apenas o de defender o interesse afeito a seu interesse. E assim se diz que tudo está bem e está gerando “desenvolvimento”. Mas, na verdade o que está é gerando um “desenvolvimento de fachada”, pois ao se aprofundar nas observações vemos que muitas necessidades estão sem resposta e sem base sólida de sustentação, necessárias ao desenvolvimento.
Pois bem, onde quero chegar. O ponto é que a cidade vive mais do que nós, e o que temos de pensar é o que estamos deixando para as gerações futuras. Será que deixaremos uma cidade fértil para o crescimento que possa ser atingido em 2050, ou em um tempo menor, conforme nosso empenho, ou que, “pelo menos possa ser atingido um dia”? Ou as pessoas que estiverem vivendo em 2050 estarão praguejando contra os que viveram antes e que deixaram uma cidade sem perspectivas de futuro, com uma população cada vez menor, com a juventude procurando achar uma forma de dar o fora daqui. E eles lembrarão que no passado essa cidade era conhecida como a cidade do “lá tinha”, mas na metade do século será conhecida como a cidade do “já devia ter ido embora faz tempo”.
Sou contra a visão de se esperar somente dos políticos que eles definam nosso futuro. Os empresários e os cidadãos devem construir suas vidas juntamente com os políticos, e devem exigir seu espaço para planejar o futuro de Santa Cruz do Rio Pardo. Devem fazer malabarismos para que tenham condições de conseguir pensar e opinar sobre o futuro. E por que não podemos pensar coletivamente sobre nosso futuro? Por que temos de deixar para apenas uma pessoa essa incumbência? Por que jogar nas costas dela toda essa responsabilidade? Por que não dividimos com essa pessoa esse fardo, que também é nosso?
É claro que existem muitos governantes que querem controlar a vida de seus cidadãos, mas o fazem devido ao fato que os próprios cidadãos aceitam ser controlados. E desta forma o futuro é pensado pelo governante, e não pela população. Agora isso tem reflexos no futuro da cidade. E se o governante for medroso quanto à suas decisões? E se ele quiser apenas fazer suas decisões a quatro paredes sem a participação do povo, defendendo os interesses particulares ou de um grupo? Qual será o futuro que será vislumbrado? Vejo que nenhum, pois quando os empresários não partilham da mesma visão, ou são impedidos de participar, eles não investem e não criam empregos. Da mesma forma os trabalhadores vão procurar outras cidades para conseguir construir seu futuro, pois não partilham da visão de conjunto e de progresso. Assim não se gera crescimento e muito menos desenvolvimento.
Para finalizar e para pensar, deixo aqui o início do esplêndido texto do Professor Ladislaw Dowbor, “Educação e Desenvolvimento Local”, que muito me agrada e que está disponível no site da Apodesc – www.apodesc.org em “Estudos e documentos”.
“A região de São Joaquim, no sul do Estado de Santa Catarina, era uma região pobre, de pequenos produtores sem perspectiva, e com os indicadores de desenvolvimento humano mais baixo do Estado. Como outras regiões do país, São Joaquim, e os municípios vizinhos, esperavam que o desenvolvimento “chegasse” de fora, sob forma do investimento de uma grande empresa, ou de um projeto do governo. Há poucos anos, vários residentes da região decidiram que não iriam mais esperar, e optaram por uma outra visão de solução dos seus problemas: enfrentá-los eles mesmos. Identificaram características diferenciadas do clima local, constataram que era excepcionalmente favorável à fruticultura. Organizaram-se, e com os meios de que dispunham fizeram parcerias com instituições de pesquisa, formaram cooperativas, abriram canais conjuntos de comercialização para não depender de atravessadores, e hoje constituem uma das regiões que mais rapidamente se desenvolve no país. E não estão dependendo de uma grande corporação que de um dia para outro pode mudara de região: dependem de si mesmos.”
“Esta visão de que podemos ser donos da nossa própria transformação econômica e social, de que o desenvolvimento não se espera mas se faz, constitui uma das mudanças mais profundas que está ocorrendo no país. Tira-nos da atitude de espectadores críticos de um governo sempre insuficiente, ou do pessimismo passivo. Devolve ao cidadão a compreensão de que pode tomar o seu destino em suas mãos, conquanto haja uma dinâmica social local que facilite o processo, gerando sinergia entre diversos esforços.”
“A idéia da educação para o desenvolvimento local está diretamente vinculada a esta compreensão, e à necessidade de se formar pessoas que amanhã possam participar de forma ativa das iniciativas capazes de transformar o seu entorno, de gerar dinâmicas construtivas. Hoje, quando se tenta promover iniciativas deste tipo, constata-se que não só os jovens, mas inclusive os adultos desconhecem desde a origem do nome da sua própria rua até os potenciais do subsolo da região onde se criaram. Para termos cidadania ativa, temos de ter uma cidadania informada, e isto começa cedo. A educação não deve servir apenas como trampolim para uma pessoa escapar da sua região: deve dar-lhe os conhecimentos necessários para ajudar a transformá-la.”
Praticamente este é um texto que move a Apodesc nas suas intenções e nos seus projetos, a participação popular nos desígnios de seu destino. E também movido por um lema de Mahatma Ghandi - “Se queremos progredir, não devemos repetir a história, mas fazer uma história nova”.

Mauricio R. Araujo
www.apodesc.org
17/01/2009
Imagens: A imagem aqui apresentada foi retirada da página do Orkut pessoal de Geraldo Martins Vieira - Oficina de Calçados do Octaviano Botelho de Souza, Geraldo Vieira no fundo no meio de dois amigos década de 40
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